1) Jardim do Ouro, distrito de Itaituba (PA), com pouco movimento devido a operação do governo federal Samaúma, com Ibama, ICMBio e exército, para fiscalizar a floresta.
Por conta da operação, muitos garimpos pararam e madeireiros também tiveram que interromper as atividades. As equipes de fiscalização queimaram máquinas de garimpo, visitaram madeireiras e fizeram barreiras em algumas estradas para impedir a passagem de maquinário de garimpo e madeira, entre outros resultados que serão apresentados ao mundo na COP26, em novembro.
2) Um cabaré com pouco movimento em uma noite de terça, no distrito de Jardim do Ouro (pertence a Itaituba, PA). O local está parado desde o início da operação Samaúma, do governo federal. Com os garimpos parados, o comércio local também parou. E o povo tá irritado com o Joe Biden.
3) Túlio Pinheiro (33), garimpeiro que conhecemos na rua, bêbado numa manhã de segunda-feira. Estava sem trabalho. Reclamava muito da operação Samaúma, que parou com os garimpos. Túlio tinha dormido em cima dessa mesa de sinuca na noite anterior.
O conhecemos no momento em que conversávamos com um sargento do exército que acompanhava um caminhão cheio de soldados para uma operação da Samaúma dentro da Transgarimpeira.
“Ow, senhor, quando essa operação vai acabar?”, perguntou Túlio. O sargento riu e disse que não poderia passar nenhuma informação, muito menos essa. Túlio queria saber quando poderia voltar a trabalhar — quando a operação de fiscalização terminasse.
Ele culpava Joe Biden pela operação. Disse que acompanha as notícias e que Bolsonaro estava de mãos atadas já que o Joe Biden era um “ambientalista” e fez muita pressão internacional em cima da Amazônia.
4) Um cabaré em Moraes Almeida, distrito de Itaituba, no sudoeste do Pará. 23 Agosto, 2021.
5) A rodovia Transgarimpeira é vista do início do vilarejo de Jardim do Ouro, que pertence a Itaituba, no sudoeste do Pará.
A Transgarimpeira começa em outro distrito, Moraes Almeida, que fica na beira da BR-163. Da BR-163 até o final da Transgarimpeira, são 193 quilômetros um mundo de garimpos, legais e ilegais, de brasileiros e de empresas gringas, explorando o subsolo da floresta Amazônica. Sem falar nos madeireiros.
A Transgarimpeira termina na beira do rio Crepori, na comunidade Creporizão, ao lado de um grande garimpo com o mesmo nome.
Essa estrada estadual começou a ser aberta em 1983, no auge da corrida pelo ouro, e continua sendo de terra. A prefeitura de Itaituba, informa sua assessoria de imprensa, mantém uma equipe exclusiva para patrolar a estrada e garantir a “trafegabilidade com segurança”, “para não comprometer a produção do escoamento dos diversos produtos, para não prejudicar a economia do município”, informa o site oficial da prefeitura.
6) Rose depena uma galinha para o jantar enquanto assiste a sua novela no celular, nos fundos do bar em que trabalha, em Jardim do Ouro. 31 Agosto, 2021.
Ela é do Maranhão e está lá há pouco tempo, três meses, mas já sabe que não vai ficar. Tá achando tudo muito parado. Rose foi uma das primeiras pessoas que conversei quando cheguei no vilarejo. Ela foi muito simpática e com um jeito todo carinhoso desde o início.
No primeiro dia, almoçamos no bar em que trabalha e quebrei um dente comendo a farinha de puba (ainda bem que foi o de trás e deu pra restaurar). Ela disse que agora sim eu tinha virado paraense.
No meu último dia em Jardim do Ouro, fui procurá-la no bar para me despedir e antes do abração e de uma participação na videochamada com a família dela, tive que fotografar essa cena: a Rose depenando uma galinha e assistindo a sua novela no celular.
7) Um pouco mais de Jardim do Ouro, distrito de Itaituba, sudoeste do Pará, que fica na rodovia Transgarimpeira e sobrevive devido aos garimpos da região. 31 Agosto, 2021.
Em reportagem para o The Guardian, com Tom Phillips.
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Brazil’s curb on illegal mining since July have affected businesses in Jardim do Ouro as trade has slowed. August 31, 2021. Photograph: Lucas Landau/The Guardian