“saí pra cidade com 7 mil reais e gastei tudo em mulher e cachaça. no final, não tinha nem 100 reais na carteira”, conta o cabeludo, garimpeiro de 32 anos nascido em imperatriz, segunda maior cidade do maranhão, e há dois meses apenas trabalhando com garimpo no pará.
me pergunto porque eles não juntam dinheiro. eles realmente lidam com muita grana e não acumulam nada. me esforço para entender o estilo de vida do homem garimpeiro. acredito que, ao entender esse conceito de sobrevivência, talvez consiga chegar à resposta.
entre um verso e outro recitado de raul seixas, itumbiara, garimpeiro de 55 anos, comenta que conseguiu começar a guardar dinheiro recentemente, depois de parou de gastar o que tinha para manter o vício em maconha. apesar de ser garimpeiro desde os 13 anos de idade, ele juntou 6.500 reais até agora, que planeja usar em sua aposentadoria — ainda sem data prevista.
a maior parte desses homens não tem família. eles gastam tudo o que ganham com o vil metal em seus bel-prazeres. uns vieram fugidos de suas terras pelos mais diversos motivos, outros simplesmente escolheram viver na caça do ouro porque dá dinheiro.
zim, 42 anos de idade e 29 de garimpo, me conta que é pedreiro e que sabe construir um prédio sozinho se precisar. mas trabalhar na cidade não paga o que ele ganha no garimpo. e no garimpo, ou seja, no mato, ele não paga conta de luz, de internet, não paga para dormir nem comer. "olha pra isso, a paz que é a floresta", resume meu companheiro de barraco em uma conversa à noite, em nossas redes, antes de dormir.
pergunto ao cabeludo se ele mudou de vida e ele responde reclamando do "sistema": "no pará você ganha muito mas também gasta muito. as coisas são caras e feitas para você gastar, é difícil juntar dinheiro aqui". uma parte ele usa para pagar a pensão dos dois filhos que ficaram com a ex-mulher no maranhão, “o resto é para brincar", arremata.
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Nas fotos:
1) Itumbiara, 55 anos, recebeu o apelido com o nome da cidade onde nasceu, em Goiás, na divisa com Minas Gerais. Saiu de casa aos 13 anos e se considera do mundo. Gosta de recitar Raul Seixas, conversa tão rápido que às vezes não dá pra entender o que fala e conseguiu abandonar o vício que tinha em maconha. Hoje, economiza para se aposentar um dia.
2) Zim, 42 anos, nascido em Lago da Pedra (MA). Seu pai era garimpeiro e foi para Peixoto de Azevedo na década de 1980, quando a cidade do Mato Grosso bombava de garimpo e ouro. Zim trabalha em garimpo desde os 12 anos de idade e também é pedreiro, só que prefere extrair ouro porque dá mais dinheiro.
3) Seu Pedro, 54 anos, nasceu em Augustinópolis, município de menos de 20 mil habitantes, que ele ainda diz ficar em Goiás, mas que, na verdade, pertence ao Estado do Tocantins. Seu Pedro começou a trabalhar com garimpo na época de Serra Pelada (PA), em 1980, para onde foi ainda bem jovem carregar sacos de areia de 35 kg nas costas. Teve dois filhos, que não vê há 20 anos mas que localizou pelo Facebook, e quer juntar 10 mil reais para visitar Augustinópolis e ajudar o pai.