Nov. 24, 2017. Regência Augusta é distrito de Linhares. A vila de Regência, como é conhecida, tem cerca de 1.200 habitantes; Linhares tem 170 mil. O vilarejo fica no litoral, na foz do rio Doce, enquanto Linhares fica a 55 km para o interior do Espírito Santo. Linhares é uma cidade rica por conta da exploração de petróleo e gás. Regência é um subdistrito simples, que vive da pesca e do turismo do surf. A prefeitura de Regência é em Linhares e as contas dos regencianos são pagas em Linhares, pois a única agência bancária da vila fechou há dois anos. O meio de transporte público entre a vila e a "cidade grande" é um ônibus que cruza a estrada -- de terra esburacada, que, quando chove, vira um lamaçal -- três vezes ao dia (8h, 13h, 17h) e custa R$ 13,90. Moradora de Regência, Gleide Ferreira, 45, diz que sua conta de água custa em média R$ 18. Somados aos R$ 13,90 do trajeto de ida e volta, a conta de R$ 18 passa para R$ 45,80. É comum que os moradores peçam a vizinhos e conhecidos quando vão à Linhares para pagar várias contas juntas.
Nov. 24, 2017. Já na costa, cerca de 2 km antes da entrada de Regência, há quatro grandes tanques de petróleo da Petrobras. Em 2012, uma ação judicial do Ministério Público Federal e Estadual deu 30 dias para a empresa retirar todo o terminal e seus equipamentos do local, alegando que "encontra-se em Área de Preservação Ambiental Permanente (APP), em local de desova de tartarugas ameaçadas de extinção, na região de Comboios e em área com população de pescadores e indígenas". A ação judicial ainda cobrava a apresentação de um Plano de Recuperação de Área Degradada ao IBAMA.
Nov. 24, 2017. Porém, nada foi feito, os tonéis continuam desativados no mesmo lugar. Em dezembro de 2017, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema) apresentaram ao governo estadual e municipal uma proposta para transformar o complexo em Terminal de Ciência, Educação e Turismo, alegando que retirar os tanques e todos os equipamentos geraria danos ainda maiores ao meio ambiente. O objetivo do novo espaço seria fomentar o turismo na região.
Nov. 6, 2017. Quando chove, a cor das águas do mar (foto) e do rio mudam drasticamente, repelindo qualquer ímpeto de mergulho. Isso acontece porque o fundo é remexido fazendo com que a lama que estava concentrada embaixo seja movimentada.
Nov. 6, 2017. É possível ver na margem do rio Doce a consistência da lama tóxica, que é extremamente fina com alguns pontos brilhantes que se parecem com purpurina.
Nov. 7, 2017. Na área central da vila de pescadores, há um campo de futebol onde as crianças têm aula nas terças e quintas pela manhã. Ao fundo, na construção branca entre o campo de futebol e as árvores da margem do rio Doce, encontra-se a sede do Projeto Tamar. O Tamar se firmou em Regência desde 1980, promovendo a preservação das tartarugas marinhas que usavam as praias da região para desovar. Atualmente, o Projeto Tamar é mais do que um projeto ambiental para os regencianos. Ele tem um papel importante no intermédio da comunicação entre população local e o Estado, que sempre esteve distante, além de gerar emprego e estimular o turismo.
Nov. 7, 2017. Ao fundo do campo está a cúpula do farol que Regência ganhou da Princesa Isabel como presente ao pescador filho de índio Bernardo José dos Santos, em 1887. O objeto histórico, conhecido como Farol do Rio Doce, foi restaurado em 2014, centenário da memória do caboclo Bernardo, e alocado em um ponto de destaque no vilarejo.
Nov. 19, 2017. A população ribeirinha de Regência habita a foz do rio Doce, ao lado sul. Seus 2400 hectares estão dentro da Reserva Biológica de Comboios e são contornados pelo rio, pelo oceano Atlântico e por uma área de preservação ambiental. O encontro entre o rio e o mar é conhecido pelas águas de forte correnteza e por ilhas que aparecem e desaparecem conforme as marés.
Nov. 18, 2017. Crianças se divertem na manhã de um sábado com pequenas ondulações na margem da boca do rio Doce, arriscando o contato da pele com as águas com rejeitos de ferro, chumbo, arsênio e mercúrio que vieram de Mariana, Minas Gerais -- e aniquilaram os 800 km de vida do rio Doce, depois que a barragem de rejeitos de minério da mineradora Samarco S.A. rompeu em 5 de novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues.
Nov. 23, 2017. Na praça principal de Regência, o busto do caboclo Bernardo (à direita) e do Seu Miúdo (à esquerda) olham para a peixaria do Flô. O estabelecimento teve que ser fechado há dois anos por conta de uma liminar do Ministério Público Estadual do Espírito Santo que, em fevereiro de 2016, proibia a pesca na região para preservar a saúde da população e a sobrevivência das espécies. Desde então os pescadores estão sem poder trabalhar.
Nov. 23, 2017. No imóvel exatamente ao lado da peixaria do Flô, a Fundação Renova alugou uma sala comercial para servir de posto de informação para quem quiser pegar crédito para abrir um negócio no vilarejo. É o único local da vila, além do Projeto Tamar, que tem segurança. A Fundação teme retaliação dos moradores atingidos pela lama tóxica que ainda não receberam o cartão-auxílio. O segurança Jarbas, 37 anos, nativo de Regência, teve que procurar emprego por enfrentar dificuldades financeiras.
Nov. 5, 2017. Depois do crime ambiental, a vila de Regência teve um sério problema de abastecimento de água. Antes da tragédia, a água usada era tratada do rio. Dois anos depois, a vila é abastecida por caminhões-pipa que trazem água de Linhares durante dia e noite. O movimento é constante nas pequenas e pacatas ruas de terra batida. Os enormes veículos tem como destino a cisterna central, na extremidade oposta à entrada do povoado.
Nov. 18, 2017. É comum ver trabalhadores que foram impedidos de trabalhar desde a chegada da lama nos bares da vila, em qualquer horário do dia, por conta da falta de ocupação. Moradores dizem que os bares são alguns dos poucos estabelecimentos comerciais que ainda sobrevivem em Regência.
Nov. 25, 2017. Na praça, em frente ao bar, um grupo comemora o aniversário de um pescador. Na panela, frango em vez de peixe.
Nov. 5, 2017. Conforme peixarias fecharam, igrejas abriram. Se, antes do crime ambiental, havia cinco igrejas na vila, atualmente moradores de Regência calculam aproximadamente 13 estabelecimentos religiosos — que continuam aparecendo.
Nov. 5, 2017. Em apenas uma rua, é possível contar três igrejas: Igreja Evangélica Assembléia de Deus Pentecostal - Ministério Regência com Cristo, I. Ev. Ass. de Deus - Ministério de Linhares e Congregação Batista em Regência (foto).
Nov. 17, 2017. Há também missionários que pregam palavras religiosas em praça pública. Além disso, agentes representando as Testemunhas de Jeová também abordam moradores na rua, entregando panfletos com temática religiosa.
Nov. 20, 2017. Gleide Soares (ou Cida, como prefere ser chamada), 45, também conseguiu ajuda da comunidade para incentivá-la a superar dificuldades. A técnica em enfermagem fez em sua casa uma pousada para receber turistas, mas assim que as obras terminaram, aconteceu o crime ambiental. Com quartos novos mas sem movimento, Cida foi consumida pela depressão, que já era presente em sua vida, até ser apresentada à meliponicultura.
Nov. 20, 2017. O cultivo de abelhas sem ferrão em Regência foi implementado no início de 2017 pela AME-ES (Associação de Meliponicultores do Espírito Santo) como uma maneira para lidar com a falta de apoio psicológico da população — além de conservar as espécies de abelha e gerar mel medicinal. Cida está há mais de um ano sem tocar nos remédios para depressão.
Nov. 22, 2017. A pescadora Suely Dias, 37, posa para um retrato junto ao seu antigo material de trabalho, guardado no quintal desde 21 de novembro de 2015, quando os rejeitos de minério chegaram a foz do rio Doce. Ela nutre a esperança de um dia poder voltar a usá-los.
Nov. 22, 2017. Com a ajuda da enteada Nathallya Nascimento, 15, Suely prepara os pastéis que se tornaram sua principal fonte de renda depois da chegada dos rejeitos. Além dos salgados de queijo, pizza, calabresa e frango (a R$ 2,50), a capixaba original de Rio Bananal e moradora de Regência há 20 anos, também vende chup-chup (R$ 1) para complementar os insuficientes R$ 1.400 que ganha no cartão-auxílio da Renova. Apesar do faturamento ser inferior ao de quando pescava, Suely comemora seu recomeço e o sucesso das vendas.
Nov. 22, 2017. A pescadora tem uma relação íntima com o rio Doce; toda noite, às 21h, Suely vai até o Porto de Regência para conversar com o Doce e namorar de longe o barco em que trabalhava. Assim, ela mantém suas esperanças de um dia poder voltar a trabalhar no rio.
Nov. 25, 2017. Uma das preocupações de Regência é com a falta de ocupação das crianças. Sem o rio e sem o mar para se entreter, a nova geração está com um grande tempo ocioso. Há relatos do aumento do índice de gravidez entre adolescentes e do uso de crack na vila.
Nov. 22, 2017. Thales, 7 anos, posa para foto no parque infantil da praça de Regência.
Nov. 17, 2017. Crianças jogam futebol durante a noite na rua.
Nov. 20, 2017. Mas importantes ações comunitárias têm gerado efeitos positivos tanto às crianças quanto aos adultos. O intuito dessas atitudes é resgatar nas raízes caboclas de Regência a força necessária para passar a fase de luto e estancar a ferida que ainda sangra. Por exemplo, o congo mirim, grupo infantil que perpetua a principal cultura regional: as bandas de congo. Na foto, uma criança toca a casaca (espécie de reco-reco).
Nov. 17, 2017. A nativa Luciana Souza de Oliveira, 45, é conhecida na comunidade como uma liderança alternativa. Além de atuar como representante popular junto ao Projeto Tamar e cobrar constantemente da Fundação Renova que as medidas previstas no TTAC (Termo de Transação de Ajustamento de Conduta, que protege os atingidos pela Samarco) sejam cumpridas, Luciana foi professora da única escola municipal de Regência, trabalha no (também único) posto de saúde, administra o grupo de artesanato Pimenta Nativa e coordena o congo mirim na Casa do Congo (foto), espaço para preservar a tradição local. Luciana, orgulhosamente cabocla, considera o vínculo com a cultura ancestral um forte meio de recuperação depois do crime ambiental.
Nov. 24, 2017. O congo é um estilo musical que teve seu primeiro registro em 1855, quando foi chamado inicialmente de “banda de índios”. Os botocudos, que habitavam as margens do rio Doce, dançavam em roda batendo as mãos nos peitos e nas coxas, além de usar dois instrumentos musicais: os tambores feitos de pau cavado e a casaca, uma espécie de reco-reco feito de bambu. A chegada dos negros acrescentou a dança ao ritmo musical tradicional do Espírito Santo.
Nov. 24, 2017. O congo ainda resiste em Regência graças a nativos como Seu Humberto, 74, o principal artesão local que ainda fabrica a casaca (hoje feita de madeira) e os tambores.
Nov. 19, 2017. O congo está presente em todas as festas religiosas da vila. Como na Fincada do Mastro de São Benedito, que dá início ao período festivo, do dia 25 de novembro a 20 de janeiro (data em que há a Derrubada do Mastro, no dia de Santa Catarina). Os preparativos começam na semana anterior à festa. A Banda de Congo São Benedito de Regência toca pela cidade (foto) recolhendo a tradicional "esmola", donativos para o grande jantar comunitário que acontece na noite da festa, dia 25.
Nov. 19, 2017. Embaixo de um forte sol, os integrantes da banda de congo adulto levam a imagem de São Benedito para abençoar os lares dos moradores que fizerem doações.
Nov. 24, 2017. A tradição manda que na noite da véspera da festa de São Benedito, depois de uma apresentação da banda de congo na Casa do Congo, os homens escondam o mastro pela vila. As pessoas mais velhas de Regência contam que essa tradição do mastro vem da história do naufrágio de um navio negreiro onde muitos escravos sobreviveram se segurando no mastro. Os sobreviventes desse naufrágio, devotos de São Benedito, também conhecido como o Santo Negro (reconhecido pela Igreja Católica), decidiram homenagear o Santo criando a Fincada do Mastro.
Nov. 25, 2017. No dia da festa, as atividades começam com a procissão de São Benedito que desfila junto com a banda de congo pelas ruas do povoado.
Nov. 25, 2017. A imagem dos santos Benedito e Catarina são expostas na porta da segunda Igreja católica da vila, construída pela comunidade na década de 1950, com materiais que vieram de Colatina por canoas. A primeira igreja católica era de madeira e o rio levou água abaixo durante uma enchente. A atual igreja é considerada um marco geográfico e histórico. Sua posição é de frente para a margem do rio e de costas para a vila pois quando foi construída havia mais terra nas margens. Com os anos, o rio foi alargando e a vila que era na frente da construção, passou a se desenvolver atrás.
Nov. 25, 2017. A festa é guiada por Guimaldo Firmino, 74, o mestre da Banda de Congo São Benedito de Regência. O capitão, como também são conhecidos os líderes das bandas, é um dos responsáveis por conservar a cultura do congo em Regência, regendo também a banda mirim.
Nov. 25, 2017. Seguindo a tradição, após a procissão, o grupo sai em busca do mastro escondido. Ao encontrá-lo, os moradores amarram ramos ao mastro e fazem pedidos ao Santo.
Nov. 25, 2017. Moradores ajudam a cavar o buraco onde o mastro de São Benedito é fincado até dia 20 de janeiro, quando na festa de Santa Catarina, ele é derrubado e guardado até novembro seguinte, reiniciando o período das festas na vila.
Nov. 25, 2017. O mastro é suspenso por duas cordas laterais, puxadas com precisão pelos moradores. À direita na foto, a cisterna central de Regência.
Nov. 25, 2017. Jovens católicos se preparam antes da missa a São Benedito.
Nov. 25, 2017. Após a missa, é distribuído o jantar comunitário regado a feijão tropeiro feito no forno a lenha da Casa do Congo pelas mulheres da banda.
Nov. 25, 2017. Um morador solta fogos em homenagem a São Benedito.
Nov. 25, 2017. Senhoras da banda do congo se divertem na cozinha onde é preparado o jantar comunitário.
Nov. 19, 2017. Em um domingo de sol, crianças brincam em um dos barcos ancorados no Porto de Regência, na beira do rio Doce.
Nov. 19, 2017. Enquanto não saem laudos oficiais sobre a qualidade das águas, crianças se divertem no Porto de Regência, na beira do rio Doce, sem se preocupar com a contaminação dos rejeitos de minério.
Nov. 4, 2017. O surfistas de Vitória, Lorenzo Dalvi, 17, e Daniel Padovan, 16, foram pela primeira vez a Regência passar um final de semana em busca das ondas. No entanto, não é comum ver pessoas na praia arriscando o contato com as águas, já que ainda não há laudos técnicos oficiais e objetivos sobre as condições da contaminação.
Nov. 5, 2017. Crianças se divertem no mar, sob os cuidados do avô, exatamente dois anos depois do crime ambiental em Bento Rodrigues.
Nov. 4, 2017. Na praça, o pouco movimento fica concentrado no canto onde há sinal de wifi público (o nome da rede é Caboclo Bernardo).
Nov. 5, 2017. A volta de brincadeiras de rua como peão e bolinha de gude também pode ser observada como um resgate cultural em Regência. Os primos Matheus dos Santos Souza, 13, e Daniel Severo de Souza, 8, se encontram no final de semana para jogar bolinha de gude (foto) na frente da igreja.
Nov. 20, 2017. Fortalecer a luta política através da arte é a proposta da Casa Rosa, centro cultural em funcionamento desde 2016. Criado pelo linharense Marcelo Vilela (foto), 39, o espaço aberto ao público ocupa artisticamente uma casa inteira dedicada às crianças. Marcelo acredita que cuidar das crianças é a melhor maneira de cuidar de Regência.
Nov. 20, 2017. Para estimular esse ambiente fértil, o nativo Yan Macedo, 20, ensina diversos instrumentos de corda a cerca de 40 crianças. Yan (camiseta cinza) é neto do Seu Miúdo e carrega no sangue caboclo as tradições musicais que vieram do avô, famoso defensor e incentivador do congo. O jovem sabe a importância da música como instrumento transformador e vê em suas aulas uma possibilidade de impedir o bloqueio do futuro de uma geração de crianças que crescerá sem o mar e sem o rio.
Nov. 6, 2017. Mohamed Machado Soares, 13, durante uma aula de música com Yan, na varanda da Casa Rosa.
Nov. 22, 2017. Rafael Pereira, 14, costumava pegar onda antes do desastre. Há dois anos sem entrar no mar, ele procurou outra atividade para ocupar seu tempo. Desde 2016, Rafael faz aulas de jiu-jistu que acontecem no auditório do Centro Ecológico, espaço cedido pelo Projeto Tamar.
Nov. 22, 2017. Lucas Pereira, 15, irmão de Rafael, também faz aula de jiu-jitsu às segundas, quartas e sextas.
Nov. 22, 2017. Lucas carrega o kimono que ganhou na aula de jiu-jistu.
Nov. 22, 2017. Os irmãos vão juntos de bicicleta para aula de jiu-jitsu, no início da noite.
Nov. 22, 2017. Crianças observam a aula de jiu-jitsu no ginásio da escola municipal. Durante dois meses, entre novembro e dezembro de 2017, o projeto de jiu-jitsu ficou sem espaço para acontecer, pois o Projeto Tamar cedeu o auditório para um evento da Fundação Renova. Assim, coube ao ginásio da escola municipal receber o projeto esportivo nas duas noites por semana em que havia disponibilidade.
Nov. 22, 2017. Rafael e Lucas (ao fundo) são considerados promissores atletas do jiu-jitsu de Regência. Com apenas um ano de aula, Rafael voltou com medalha de ouro de um campeonato regional em Linhares, onde dos nove alunos regencianos que foram, sete voltaram medalhados.
Nov. 22, 2017. O projeto das aulas de jiu-jitsu para crianças de Regência foi ideia do nativo Lucas Bragança Gomes, 23. Lucas foi demitido do emprego em Linhares coincidentemente após o crime ambiental, o que fez com que ele voltasse a morar na casa da mãe em Regência e pudesse executar o projeto esportivo — que já tinha sido idealizado antes da chegada da lama, mas que só saiu do papel quando Lucas sentiu que era hora de voltar à terra natal. Vivendo com a ajuda da mãe, que trabalha no posto de saúde local, e do auxílio-desemprego, o ex-inspetor de qualidade de uma fábrica de móveis não recebe qualquer tipo de ajuda ou incentivo do governo, da Fundação Renova ou da iniciativa privada. Ele acredita no esporte para impulsionar um futuro melhor para a nova geração.
Nov. 22, 2017. Ao término das duas horas de aula, os alunos precisam levar os 50 tatames recebidos através de doações até a casa do professor, onde eles ficam guardados. Lucas considera fundamental praticar a disciplina entre seus alunos. O professor faz questão de manter uma relação próxima com as crianças e com os pais. Mensalmente, ele se encontra na escola com os responsáveis pelos jovens para acompanhar o desenvolvimento escolar. Lucas cobra boas notas das cerca de 30 crianças que participam das aulas de jiu-jitsu.
Nov. 21, 2017. Já o Pimenta Nativa propõe ampliar as possibilidades para ajudar a resolver o problema econômico de Regência através do artesanato. Administrado pela Luciana (foto) em um terreno da sua família, o local tem seis máquinas de costura e recebe as artesãs da vila que ficaram desempregadas com a queda do setor de turismo.
Nov. 21, 2017. Maria Helena é uma das mulheres que produz bolsas, estojos e camisetas com referências típicas de Regência, como o farol. O Pimenta Nativa procura valorizar e resgatar o artesanato local, para isso recebe insumos da Petrobras através do TTAC (Termo de Transação de Ajustamento de Conduta).
Nov. 22, 2017. Luciana posa para um retrato em sua casa. No fundo, um desenho ilustra o antigo farol de Regência e o novo. “Esse rio que está aí não é o nosso rio, é o rio do capitalismo, do lucro”, afirma. A representante popular continua: “A quem interessa esse cenário de desgraça? Vamos mostrar que Regência está viva, que por trás das mazelas tem coisas boas sendo feitas.” O que faz Luciana sorrir é o congo, a raiz cabocla e o pulsar do rio Doce. “Felicidade é muito simples”, conclui.
Nov. 22, 2017. Em casa, com o marido ao fundo, Suely não esconde a felicidade com o sucesso das vendas no novo trabalho. O material que usava para pescar, ainda guardado no quintal, simboliza a esperança para continuar na luta. Ela comenta que a importância do rio Doce vai além de trabalho e lazer, faz parte da cultura do local. E termina dizendo que “Regência está viva, temos fé [que a vila] vai se reerguer”.
Nov. 20, 2017. Para Yan, “a união nesse momento é o ponto chave para conseguir manter o futuro”. O jovem de 20 anos complementa: “Regência não morreu, impossível. Como Regência vai morrer? Regência tem história, história não morre. O rio morreu, mas a vila, não. Regência nunca vai morrer porque tem pessoas aqui na vila e o que faz uma comunidade, uma vila, uma sociedade se manter viva são as pessoas”.
Nov. 20, 2017. Cida explica sobre o que aprendeu com as abelhas. “Elas são como família, tem as operárias, as campeiras, tem a mãe, as guardiãs. Elas se protegem e expulsam abelhas intrusas”. E compara com Regência. “A vila já foi unida, mas por causa do dinheiro não é mais. As abelhas ajudam umas as outras, se a nossa comunidade fosse assim Regência ia bombar”, sugere a linharense moradora da vila há 20 anos.
Nov. 20, 2017. “A Samarco veio para desunir o povo. Vizinhos pegaram distância, as relações se distanciaram devido aos interesses pessoais”, aponta Marcelo. O capixaba acredita que uma das saídas sejam ações comunitárias como a Casa Rosa, onde “as pessoas perceberam que precisam começar a trabalhar juntas”. Ele vê nas crianças a motivação para batalhar por um futuro melhor à vila e finaliza: “o que Regência tem de melhor é a simplicidade”.
Nov. 22, 2017. Lucas, que aos 23 anos além de professor de jiu-jitsu também é surfista, acredita no resgate de Regência. “Sonho em ver o mar totalmente limpo, sabendo que não estamos mergulhando no minério”, diz. “Por sermos descentes de indígenas, a garra que esse povo traz é muito grande. Temos dentro de nós esse instinto guerreiro de querer e correr atrás. O presente é cinza, mas o futuro é brilhante”, encerra.
Nov. 7, 2017. Crianças brincam para foto no final da aula de futebol. A nova geração de regencianos foi forçada a aprender a viver sem o rio e sem o mar. Com muitas perguntas e dúvidas, os moradores do vilarejo se veem perdidos entre o rejeito e o sujeito. Mas devido ao auxílio de um grupo de pessoas movidas pelo amor que cansaram de esperar pelo poder público, o resgate da vila de Regência já começou.